domingo, novembro 18, 2007

Dia 20 de novembro: Muito o que refletir, pouco o que se comemorar...


Em 20 de novembro é lembrado como dia da consciência negra. Que consciência estamos falando?
Sim, para muitos é só mais um feriado, só mais uma desculpa para esticar o fim-de-semana.
Pois bem, o fato é que hoje no Brasil a população negra já é mais da metade da população (isso dados do IBGE, desconsiderando os "pardos", seja lá que cor seja essa, marrons, chocolates, mulatos , moreninhos etc.).
Historicamente, os negros foram trazidos de todos os recantos da África para serem vendidos como mercadorias. Viverem como escravos. Menos que humano, coisa, objeto pertencente ao seu Senhor.
Entre tantos, um menino batizado de Francisco, que sabia falar latim, se rebelou contra isso. Teve uma boa educação, dizem que até foi coroinha, mas resolveu se rebelar, buscar liberdade numa sociedade quilombola, junto com outros irmãos. Mais tarde,
essa comunidade iria se tornar uma das mais famosas de nossa história e a que mais derrotas deu ao poder de sua época;e seu líder, um Mito para todos os que tinham, independente da cor de sua pele, em sua mente a capacidade de perceber e lutar pela dignidade humana e seus direitos: ZUMBI DOS PALMARES.
Hoje, ainda somos os "escravos" do salário indigno que nos pagam ou do exército de reserva(desempregados), ainda andamos em condições desumanas e estamos longe de ter dignidade. Mas ousamos ter ginga, jogo de cintura, capoeiramos as adversidades e ainda se acredita na luta, na cultura, na fé desse povo que é negro e que se mistura com o que se chama brasileiro.

Especialmente em Queimados, algumas iniciativas, grupos e pessoas, entendem que o ideal de Zumbi, transpassa a questão da cor da pele: é um grito pela liberdade, dignidade e respeito a cultura e a nossa identidade. Como por exemplo o grupo "Herdeiros de Zumbi", o grupo de dança-Afro "Aganju", junto com terreiros entre outros.Estes grupos insistem, à revelia da ideologia vigente, a proclamar que SER NEGRO, também é lindo... Não é mais e nem menos que a beleza e a cultura européia, indigena, asiática também existente no nosso país. É diferente. E faz parte de TODOS nós. Essa é a consciência!

Somos todos herdeiros dessa história, todos nós, os brasileiros.

Por outros Zumbis!

Axé, Povo negro!

Para quem quiser, divulgo um exemplo do trabalho do grupo "Herdeiros de Zumbi" de Queimados:
Herdeiros de zumbi no youtube:
http://br.youtube.com/watch?v=7-a5Kw3f8Oc

Um comentário:

  1. 20 de Novembro de 2007...

    Comemora-se Zumbi, símbolo de resistência e liberdade: herói que preferiu abdicar da própria vida a perdê-la na indignidade de um castigo, de um cativeiro. Alguns preferem "Dia da Consciência Negra", talvez porque Zumbi remeta muito diretamente a uma africanidade que incomode a hegemonia do pensamento no tempo presente.

    Sim... Em um mundo globalizado é preciso "dissolver culturalmente os Orixás", sepultar parte da cultura -- ou sua totalidade -- criando um novo padrão de "negritude" que seja aceito e conveniente, que não ameace a supremacia absoluta da nossa branca e comercial cultura de consumo. Paletós e gravatas são horríveis, mas as vivas e coloridas roupas afro trazem um confrontamento indesejável ao homem ocidental, preso no mundo de ilusões que criou ao ponto de espantar-se com a luz, com o pulsar das cores, com a vida... Este homem ocidental e burguês tenta dar a tudo o tom cinza, sóbrio, de seus dias...

    Mas ainda assim alguém lembra Zumbi. Ele resiste, como resistiram no passado os conhecimentos, histórias e lendas de um povo. Transmitida pela vivência e pela tradição oral, a alma comum de toda uma ancestralidade chegou ao século XXI... E ela incomoda, como incomodavam no passado os atabaques que ousavam romper o silêncio das noites e chegavam à casa senhorial... Só os deuses sabem o medo que estes atabaques provocavam nos senhores...

    Não era só o medo da magia, do poder dos Orixás... Era medo do chamado à vida que aquela batida era capaz de provocar. Era medo de chegar no terreiro e encontrar Zumbi dançando para os deuses, banqueteando-se de vida sob as estrelas, embevecido pela magia de uma cultura que somente séculos de alegria poderiam conceber. Uma alegria tão forte que sequer os grilhões e o tronco eram capazes de apagar. Ver toda a força dessa alegria e olhar para dentro de si mesmo e nada semelhante reconhecer era conhecer de si o vazio de uma vida vã. Eis aí, nesta revelação de vida morta, o medo do Senhor do Engenho: temia descobrir-se morto!

    E é isso que os incomoda até hoje... É que se vêem mortos ao olharem-se no espelho ao mesmo tempo em que ouvem, ao longe, as gargalhadas felizes e livres de Zumbi. Sim, o mataram, ao menos em tese, ao menos na tese de seu mundo material, mas ele continua a sorrir e a dançar... Deve ser coisa dos Orixás... Confusos, olham aturdidos para o mundo que arrogantemente julgam haver criado, mas o percebem tão vazio de sentido quanto eles mesmos...

    Maldição essa, de matar Zumbi por inveja da liberdade e da vida que resplandesciam em sua alma... Maldição isso, de matar Zumbi que não morreu... Que não morre, que ainda está aqui...

    Volta-se então o Senhor do Engenho contra tudo o que lembre Zumbi. E ele inventa a consciência negra para evitar pronunciar seu nome. Tem-no por um fantasma, ao qual sequer deseja pronunciar o nome. Mas sabe, em verdade, que o fantasma é ele, Senhor de Engenho, condenado a vagar pelas ilhas do esquecimento no correr dos tempos, condenado, junto com suas idéias, ao desterro na longínqua ilha do nada. Ele está, ele passará, Zumbi é.

    Fica aqui registrado o meu agradecimento a todos os irmãos negros pela beleza que trouxeram a este país que acolheu a meus pais e onde nasci. Beleza esta que se reflete na gente, na cultura, na linguagem...

    E em especial à minha querida "Tia Zélia", que teve a bondade de não desfazer minha fé inocente de criança que achava que "Deus" era a montanha à frente de minha casa...

    Talvez com seu sorriso amarelo ela já soubesse o que eu ainda nem sonhava em saber: que isto jamais mudaria, e que eu continuaria a ver o sagrado no sopro do vento, na folha da árvore, na pedra, rio e cachoeira, nas grandes águas do mar...

    Obrigado, "Tia Zélia", por paciência com esse "moleque tão rabugento"... Obrigado por não matar a poesia da minha alma... E por me dar a sua...

    Sejam felizes!

    Vida Longa a Zumbi dos Palmares:

    O Rei chegou! Venham ver o Rei!

    Saudações Socialistas e Revolucionárias!

    ----

    carlos ars
    coletivo de comunicação popular vladimir herzog
    partido comunista brasileiro · pcb

    ResponderExcluir